A perspectiva clínica: o impacto das redes sociais no desenvolvimento de meninos e meninas

A partir da experiência clínica, sabemos que o impacto das redes sociais na saúde mental das crianças e adolescentes não é homogêneo e pode variar conforme o sexo. Meninos e meninas enfrentam pressões diferentes devido aos estereótipos de gênero amplificados online, e essas diferenças precisam ser reconhecidas e abordadas de maneira sensível.

Meninas e o padrão estético nas redes sociais

Para as meninas, a pressão estética nas redes sociais é um dos fatores mais preponderantes. A busca pela perfeição física e pela validação através de curtidas e comentários é intensificada pela constante exposição a padrões de beleza idealizados, frequentemente irreais. O foco em corpos magros, cabelos impecáveis e rostos “perfeitos” pode contribuir para transtornos alimentares, ansiedade e distúrbios da imagem corporal. Em sessões clínicas, frequentemente observamos que essas questões estão ligadas à busca incessante por aprovação externa, gerando sentimentos de inadequação e insegurança. Além disso, o culto à popularidade e à vida social exacerbada nas redes pode aumentar a pressão sobre as meninas para manter uma imagem pública “brilhante”, o que pode afetar sua autoestima e saúde emocional.

Meninos e o desafio de expressar vulnerabilidades

No caso dos meninos, embora a pressão estética também exista, ela se manifesta de maneira diferente. Muitas vezes, a ênfase está na imagem de força, sucesso e independência. Em muitos contextos, especialmente nas redes sociais, espera-se que os meninos não expressem vulnerabilidades, sentimentos ou dificuldades. A falta de espaço para a expressão emocional pode levar a um acúmulo de frustração e a dificuldades de processamento emocional, que, em longo prazo, podem contribuir para problemas como depressão, ansiedade e até comportamentos agressivos. Além disso, meninos são frequentemente influenciados por imagens de sucesso material e status, o que pode gerar uma busca por essas conquistas como forma de validação social.

O papel dos pais e educadores: sensibilidade às diferenças de gênero

É importante que os pais estejam atentos à forma como as redes sociais estão moldando a identidade de seus filhos. Para as meninas, reforçar a importância da autoestima não vinculada à aparência física e ao número de seguidores é essencial. Para os meninos, criar um espaço onde a vulnerabilidade seja vista como um sinal de força pode ajudar a prevenir os danos emocionais que a pressão por um comportamento “sem fraquezas” pode gerar.

Além disso, as escolas desempenham um papel crucial nesse processo. A inclusão de programas educativos que abordem não apenas os riscos das redes sociais, mas também as questões de gênero e a construção de identidades saudáveis, pode ser um diferencial na formação emocional das crianças e adolescentes.

Por fim, como psicóloga, acredito que o foco deve ser não apenas em limitar o uso das redes sociais, mas também em promover um uso consciente e equilibrado. A terapia cognitivo-comportamental, por exemplo, pode ajudar os jovens a desenvolver uma percepção mais realista da realidade online, desafiando as crenças distorcidas sobre o que é “normal” e “aceitável”. Dessa forma, podemos ajudar os meninos e meninas a navegar nas redes sociais com mais saúde mental e emocional, respeitando suas individualidades e fortalezas.

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